PRÓLOGO
Pano fechado.
Ruído
de pedras e areia sendo removidos, entrecortado pelos diálogos :
Carter :
Sejam bem-vindos Lord Carnavon e Lady Evelyn Herbert, ao
Vale dos Reis !
Carnavon :
Congratulações Mr.Carter ! Recebemos seu notável telegrama
de 6 de novembro e apressamo-nos o possível ...
Carter:
Ah ! nem podeis imaginar a euforia em que me encontro. Após
6 anos de infrutífero trabalho, finalmente o descobrimos ! Precisamente na manhã do dia 4, enquanto
demolíamos aquelas cabanas de trabalhadores da XX dinastia, nossos operários
deram com a picareta num degrau, talhado na rocha !
Carnavon :
Estou radiante Mr.Carter !
Sinto-me orgulhoso por tê-lo ao meu lado. Mas... onde está o túmulo ?
Carter :
Bem ali, senhor.
Quando soube que esta manhã chegariam a Luxor, ordenei que removessem o
entulho de pedras que recobriam os degraus... e a porta selada. Veja... ali
estão os 16 degraus.
Carnavon :
Que coisa espantosa !
Mal posso acreditar no que vejo.
Aquela... aquela é a porta do túmulo ?
Carter :
Exatamente, senhor.
Vamos descer ?
Carnavon :
Estou por demais comovido !
Repare, Mr.Carter, repare que profundo silêncio paira sobre o vale !
Carter :
Esse silêncio é a misteriosa voz do tempo !
Carnavon :
Aqui, cada grão de areia, embora mudo, fala mais alto que
nós. Parece que tudo parou, desde o enterro do faraó.
Carter :
3.000, ou talvez 4.000 anos nos separam, desde que um homem
deixou de pisar este solo. Estamos
rodeados de indícios de vida por ele deixada : o balde ainda cheio da argamassa
que tampoui a porta, a lâmpada oxidada, a impressão de um dedo na parede, um
ramo de flores posto no patamar, numa última homenagem.
Carnavon :
Dir-se-ia que o morto foi enterrado ontem. Nessa altura o tempo perde todo o seu
significado.
Carter :
Mas, estamos longe de creditar que somos os primeiros a
pisar estes degraus, desde o momento que a porta foi lacrada.
Carnavon :
Mr. Carter, então quer dizer que...
Carter :
Sim, larápios daquele tempo vieram perturbar o repouso
eterno do faraó !!!
Carnavon :
Ladrões ?! Então, o
que restará na tumba ?
Carter :
Veja, Lord Carnavon, estes são os selos - aqui, o da necrópole, com o cão Anúbis, o
protetor dos embalsamamentos e guarda divino do cemitério.
Carnavon :
Que significam esses homens desenhados abaixo ?
Carter :
São os nove inimigos tradicionais do império egípcio. Todos estão amarrados, como se fossem cativos
de guerra. E aqui está o mais precioso
dos selos : eis o nome de “Tutankhamen” !
Carnavon :
Meu Deus, mal posso acreditar ! Tenho em minhas mãos, feita na argamassa, a
chave da tumba de Tutankhamen, tal como foi deixada há milênios por mãos
piedosas. [ ruídos de ferro contra a rocha ]
Que fazeis Mr.Carter ? Ah! Posso ajudá-lo ?
Carter :
Com prazer, senhor ! Vou abrir um pequeno buraco no canto superior
esquerdo desta parede. Ahmed ! Ahmed !
Dê-me aquela outra barra de ferro !
Ahmed :
Ei-la, senhor.
Carnavon :
Cuidado Mr.Carter, cuidado !
Carter :
Estamos sempre conscientes da grande responsabilidade que
nos incumbe, senhor. Cada descoberta é
uma prenda do passado ao presente. O
arqueólogo é simplesmente um intermediário. Jamais deixaria escapar uma
probabilidade que nunca mais voltaria.
[ ruídos ] Pronto... creio ser o suficiente. Hussein, traga-me uma vela !
Hussein :
Pronto, senhor, aqui está.
[ ruído de fósforo ]
Carter :
Muito bem, não há presença de nenhum gás neste túmulo. Apenas um bafo de ar muito quente emana pela
abertura.
Carnavon :
Esse ar não se renovou durante milênios. Partilhamo-lo agora com quem depositou a múmia
na sua última morada. Me imagino sentido
o suave aroma dos incensos e mirra, das flores de lótus e das mandrágoras. Aos gritos das carpideiras, enquanto toda
esta terra é regada com leite, desce à tumba o ataúde de Tutankhamen ! [ mais
ruídos de passos, de ferro contra a rocha... ]
Carter :
É bom não sonharmos -
não sabemos o que nos aguarda atrás desta segunda porta selada.
Hussein :
Eis o fósforo, senhor !
[ risca-se um fosforo ]
Carnavon :
Sua mão está trêmula, Mr.Carter !... Observa : o ar quente
faz bruxulear a chama da vela [ tempo
em silêncio ] Mr.Carter, também estamos
ansiosos. Já se passou uma eternidade
para nós. Bem, podeis ver alguma coisa ?
Carter : [ como que hipnotizado, dizendo do fundo da
alma ]
Sim... coisas maravilhosas !!!
Abre-se o pano
1º ATO - cena 1
:
Akhentáten, sentado no trono, tem ao
seu lado a rainha Nefertite ; as
princesas Meritáten, Ankhsenpaáten e
Baketáten jogam ‘senet’. Algumas aias. O mestre de cerimônias dirige-se
apressadamente ao faraó :
Mestre de Cerimônias :
Adorado ‘shay’, deus do destino ! Assim como Rá navega diariamente no Oceano
Celeste, o “Esplendor de Áten”,
procedente de Tebas, deslizou pelas
águas plácidas no Nilo, até o porto desta capital.
Akentáten : [ dirigindo-se à rainha ]
“Esplendor de Áten” -
não é esse o barco dourado que Nebmaatrá, meu pai, ofereceu à grande
rainha Tiyí, durante as festas do jubileu ?
Nefertite :
Sim, adorado esposo.
Certamente ela ordenou que o retirassem do imenso lago artificial, para
navegar sobre o Nilo ! [ soam trombetas, à distância ]
Arauto :
Sua divina majestade, soberana cheia de graça, senhora de
Kemit, a grande-mãe Tiyí : que Áten a
proteja eternamente ! [ soam fortemente as trombetas /
Akhenátem levanta-se e apressadamente vai abraçar a mãe, sem qualquer
protocolo. Nefertite faz as filhas
pararem se jogar e irem cumprimentar a avó ]
Akhenáten :
Chegaste como uma deusa magnífica, minha mãe !
Tiý : [ abraçando-o ]
Akhenátem ! Meu
coração foi invadido pelos perfumes de tua afeição.
Akhenátem :
Tuas palavras são muito doces, senhora mãe. Tu te pareces cansada pelos longos anos que
Áten te concedeu... mas tua boca é sempre florida de palavras carinhosas. Meu palácio se perfuma e se ilumina com o
clarão de teu esplendor ...
Arauto : [ anuncia ]
Sua alteza real, cheia de beleza e formosura, a princesa
Sitamen – para sempre adorada !
Sitamen : [ abraçando o faraó ]
Que vivas em saúde, Akhenáten, meu irmão. Meus olhos estavam do tamanho de Mênfis, tal
a vontade que tinha em rever-te... e à sempre bela Nefertite.
Akhenáten :
És muito gentil, Sitamen.
[ abraça-a / as
princesas e rainhas trocam beijos e abraços / cumprimentam-se dizendo : ‘longa
vida’, ‘saúde a ti’, ‘seja sempre bela’ ]
Arauto : [ anuncia ]
Sua alteza real ... [ um
garoto entra na sala, toma o bastão do arauto, dizendo : ]
Tut :
Basta ! Fere-me os
ouvidos com tua voz. Pareces uma hiena faminta no deserto... e as hienas não
pronunciam o meu nome. [ empertiga-se, bate com o bastão 2 vezes no chão
/ proclama : ] Eu sou o
príncipe Tut-Ankh-Áten ! [ encaminha-se
como um reizinho a cumprimentar o irmão e a tia, que sorriem ]
Tiý :
Esse menino anda muito inoportuno ultimamente. Depois que os
sacerdotes de Tebas o instruíram, está desse jeito, todo prepotente.
Tut :
Eu sou um príncipe e tenho que portar-me como tal. Bekankes
disse-me : “Tu, um dia, será faraó, menino. Tuas atitudes devem ser dignas de
um príncipe, para que teu poder e fama se estendam até os limites do céu”. Eles
me ensinaram a ler e a escrever, a atirar com o arco, a lutar e caçar como um
bravo guerreiro.
Akhenátem :
Bekankes... quem é Bekankes ?
Tut :
Ora, tu não sabes, irmão ?
Ele é o sumo-sacerdote de Amen - Senhor de Tebas !
Akhenátem :
Aqui não se pronuncia esse nome, há 8 anos. Só há um deus que vela por todos... e também
por Bekankes !
Tut :
Já sei, esse deus é Áten, o disco brilhante. Escuta irmão, tu disseste que só há um
deus... e Amen, também não é um deus ?
Akhenátem :
Vejo que os sacerdotes te confundiram pequeno Tut. Amen é um deus perver....
Nefertite :
Deixe, meu amor. Ele
é ainda um menino para entender essas coisas...
Tut :
Querida tia. Eu sou
um menino, mas acima de tudo, sou um príncipe – o príncipe Tutankháten.
Tiý :
Seria bom que ele permanecesse aqui em Akhetáten por algum
tempo. Acredito que se tornaria mais
polido e refinado nos modos, em companhia de tuas filhas. [ olha
brava para Tut ] Príncipe
Tutankháten, vossa alteza já cumprimentastes as lindas princesas, vossas
sobrinhas ?
Tut :
Como poderia, se ainda não me foram apresentadas ?
Nefertite :
Querido Tut. Quando
tinhas 3 aninhos viestes para Akhetáten,
junto com teus pais e um grande
cortejo, depois das comemorações do 3º Jubileu de Áten. Percorremos toda a cidade celestial em
magníficos ‘merkebétis’ dourados, enquanto a multidão ovacionava o faraó
Nebmaatrá, o co-regente teu irmã e tua mãe, a nobre Tiý - com
ela a alegria !
Tut :
O que é ‘merkebét’ ?
Nefertite :
É uma palavra asiática que introduzimos no nosso vocabulário
para designar o carro de combate e passeios.
Akhenáten :
Tu acompanhaste o cortejo num ‘merkebét’ também
dourado, [ aponta as filhas ] junto com as princesas Meritáten, Ankhsenpaáten e
Baketáten.
Tut : [ levantando o braço em saudação protocolar
]
Saúde e longa vida às princesas, radiantes como a aurora e
belas como o fênix.
Tiý :
Onde estão Nefernefruáten-Tasheri, Nefernefrurá e Setepenrá,
minhas outras netinhas ?
Nefertite :
Estão lá no palácio do Norte. [ dirige-se
para Akhenáten ] Adorado esposo
! Tiý e Sitamen devem estar cansadas da
viagem e desejam rever nossas filhinhas.
Vou leva-las imediatamente para o meu palácio, onde serão hospedadas.
Tiý :
Antes, meu filho, peço-te um favor :
Akhenáten :
Teus desejos são ordens, mãe. Dizei-os para que sejam
cumpridos.
Tiý :
Conosco vieram alguns altos dignatários de Tebas, inclusive
o sacerdote Aý e Horemheb - governador
militar do Baixo-Egito. Estão no
edifício das Relações Exteriores conversando com o vizir Ramez, o chanceler Maý
e o ministro Tútu. A situação é grave,
meu filho... Por favor, não se negue a
recebe-los !
Akhenátem :
Bem sabes que detesto confabular com os oficiais do Sul,
minha mãe. Eles têm os olhos voltados
para a política e para as guerras. As
coisas espirituais são bem mais profundas e substanciais. Que Áten, com seus braços vivificantes,
derrame mais luz sobre essa gente curta de entendimento ! Não me agradaria contrariá-la, caríssima. Dei-te minha palavra ! Recebê-los-ei quando a clepsidra indicar a
sexta hora, logo após as preces.
Tiý :
Que Áten o abençoe, meu filho !
Tut :
Irmão ! Poderia aqui
permanecer contigo ?
Akhenáten :
Se tua presença não for exigida pela rainha-mãe, poderás
ficas, Tut.
Tiý :
Tem minha permissão... mas comporte-se !
Tut :
Sou um príncipe, minha mãe !
[enquanto as damas se retiram,
Tuta segura Ankhsenpaáten pelo braço e diz ] Tua cabeleira é negra, mais negra que as
crinas dos cavalos de Cuxe. Teus lábios parecem uvas maduras. Um dia, Ankhsenpaáten, quando eu me tornar
faraó, tu te sentarás à minha direita, como rainha das Duas Terras.
Tiý :
Deixe de brincadeiras, moleque. Isso está muito longe ! Smenkará, teu irmão mais velho, vai ocupar o
trono antes de ti. Tens ainda muito tempo
para se preparar...
Tut :
Smenkará é um tolo !
Passa o dia inteiro brincando de funeral com os bonecos que lhe deram o
nobre Huí – intendente do gado do país de Cuxe.
Não se interessa por nada que lhe dizem e só recita os hinos de Áten !
Akhenáten :
Então ele possui uma alma grandiosa, Tut. Quisera que todos
o imitassem : seria como um paraíso.
Meritáten :
Chega de falar em mortes e funerais. Já não bastam os de Nebmaatrá, nosso avô e de
Maketáten, nossa irmã, há apenas 1 ano ?
Que outra calamidade esperam ?
Acaso não estão fartos de ouvir os gritos das carpideiras e as preces
mortuárias ?
Nefertite :
Tens razão, filha !
Tiý :
À propósito, o sacerdote Aya disse-me que recebeste uma
belíssima carta de condolências do rei do Mitani.
Akhenáten :
É verdade, rainha-mãe.
Pedirei a Apiy, meu camareiro, para que lhe traga o documento.
Tut :
Um faraó não pede, Akhenáten ! Faraó odena !
Akhenáten :
Aqui nesta cidade de Akhetáten, pequeno irmão, todos são
tratados com igualdade. Todos são
pessoas... e merecem a melhor consideração.
Só o amor nos conduz... e Áten é o nosso guia. Porisso, nesta estranha cidade para você, um
faraó pede... não ordena. [ aparece o camareiro com um tablete de argila
nas mãos ]
Nefertite :
A carta está escrita em cuneiforme, a grafia diplomática
acadiana. É belíssima ! Podeis traduzí-la, Apiy ?
Apiý :
“A Nafuria, rei do Egito.
Assim fala Tushrata, rei do Mitani, teu irmão : quando soube da morte de meu irmão Nimuri,
chorei dia e noite todas as lágrimas de meu corpo. Fiquei muito tempo prostrado, recusando beber
e comer. ‘Por que não morri eu em lugar
dele !’ – exclamei. ‘Antes, em vez de mim, estivesse ele vivo e feliz’. Mas quando soube que Nafuria, o grande filho
de Nimuris e de sua esposa Tiy assumira o poder, ‘Nimuria não morreu !’ – exclamei, porque não
mudará ele nada o governo de seu pai.
Disse-me no íntimo de mim mesmo :
‘Nafuria é meu irmão. Quanto nos queríamos, seu pai e eu. Certamente Tiy, sua mãe, a grande esposa de
Nimuria, lhe terá dito quanto nos queríamos, seu esposo e eu’. “
Tiý :
Tushrata era muito gentil, mas nunca o admirei. Escreveu uma
porção de cartas se queixando de minha irritação contra ele. Sempre duvidei de suas alianças com meu
marido.
Akhenáten :
Que houve ao rei Tushrata ?
Acaso...
Tiý :
Horemheb te falará na audiência. A situação está ruim... muito má ! [ retiram-se ]
Tut : [ sentando-se numa cadeira ]
Pelo que observo andas mal informado, irmão. Neste caso, o
príncipe Tutankháten dar-te-á notícias de certos rumores que perambulam pela
corte...
Akhenáten :
Quais, quais são os boatos que ouviste ?
Tut :
Tutu, o teu Ministro do Exterior, é aliado secreto dos
hititas... e portanto, um traidor do Egito !!!
Akhenáten : [ dando gargalhadas ]
Tutu ? Traidor ? ah!ah!ah!
Quanta infâmia. Acaso não sabes que é um competentíssimo funcionário ?
Tut :
Ele o está ludibriando, Akhentáten.
Akhenátem :
Muito engano, pequeno Tut..
Foram os sacerdotes que certamente espalharam os boatos, não ? Tutu é um homem sábio e bom. Vi o belíssimo túmulo mandou escavar. As
inscrições hieroglíficas que cobrem as câmaras falam da minha grandeza e da
glória de Áten. Esses sacerdotes desejam
mesmo me provocar ...
Tut : [ segurando as peças do ‘senet’ ]
Vamos jogar ? Ficas
com as pretas... Adoro jogar ‘senet’,
colecionar bastões e arpoar peixes nos pântanos próximos a Mágata.
Akhenáten : [ mudando as peças ]
E Sitamen, o que mais aprecia ?
Tut :
Gosta de tocar alaúde ou flauta. Às vezes faz bolos
deliciosos, cobertos com nata. [ jogam
uns momentos em silêncio ]
Tut :
Akhenáten ! [ o faraó não responde – está concentrado no jogo
a fazer ] Akhenáten, não queres
mais me ouvir ?
Akhenáten :
Às vezes é melhor que fiques calado. Vais dizer-me outra
bobagem inventada pelos sacerdotes ?
Tut :
Não !
Akhenáten :
Então diga !
Tut :
Akhenáten... não te esqueces de me mostrar ...
Akhetáten :
Que queres ver ? O
templo de Áten ? Os jardins de plantas
raras ? As árvores que fiz trazer da
Etiópia ?
Tut :
Nada disso ! - Teu harém !.
Tuas concubinas devem ser muito belas e formosas !
Akhenáten :
Basta de dizer asneiras !
Tua mente está mergulhada em trevas... pobre menino ! Aqui não há haréns. Ordenei que os cortiços fossem desocupados
para dar residência aos pobres coitados.
Considero a miséria uma confissão da ineficiência do Estado. Agora, todos têm uma profissão digna e
livre. Cada qual escolhe a sua própria.
Tut :
Isto o levará à ruínas.
Os oprimidos não possuem a compreensão para firmar e defender a
liberdade que lhes deste !
Akhenáten :
Áten, deus de amor e justiça, paira sobre todos.
Tut :
Dizes coisas muito estranhas... olha, toma cuidado ! Meu jacaré vai matar o teu homem ! [ joga
com as pedras ] Ah ! não te disse
?
Akhenáten :
Muito bem, Tut, és um excelente jogador !
Apiy :
Iluminado ‘shay’, senhor do destino ! Anuncio-vos que a pedido da bem-amada rainha
Nefernefruáten Nefertite – para sempre viva -
a refeição será oferecida no jardim das flores exóticas, junto ao lago
das lótus, à sombra das tamareiras.
Tut :
Minha alteza real deseja saber qual o cardápio a ser
apresentado !
Apiy :
Vossa alteza, eternamente viva sob as bênçãos de Áten,
poderá escolher carne de boi ou gazela no espeto. Tem ainda pombos assados, codornizes e
rolinhas ao molho, lentilha, rábano e cebola, servidos com ‘celestis’.
Tut :
Que é ‘celestis’ ?
Akhenáten :
Pequenos pães triangulares, feitos com farinha
‘dourah’. São muito saborosos.
Apiy :
Depois serviremos figos, melão, uvas e amoras.
Tut :
E vinho, não haverá vinho ?
Dizem que é um vencedor das grandes preocupações !
Akhentáten :
E quais são tuas grandes procupações, Tut ?
Tut :
Ser um príncipe perfeito, acima de tudo !
Apiy :
Cerveja e excelentes vinhos branco ou tinto da adega do rei,
misturados com mel e suco de tâmaras, serão servidos em abundância, alteza .
Tut :
Pois beberei vinho, até vomitar !
Apiy :
Assim que Vossa Majestade ordenar, o mestre da cozinha real
servirá o almoço.
Tut :
Pois que seja agora mesmo... já estou morrendo de fome. [ e sai
apressadamente, puxando Akhenáten ]
1º ATO - cena 2
Akhenáten, Tiý, governador e general Horemheb, ministro Tutu, vizir Ramez e o
sacerdote Ay, estão reunidos. Faraó se mostra reservado e frio.
Salve, senhor do Alto e Baixo Egito, Akhenáten, que viva
eternamente ! Trazemos a Vossa Majestade
desagradáveis notícias.
Akhenáten :
Dizei-me, bravo Horemheb, “Governador Militar das Portas do
Norte”, qual o desespero que trazeis em vossos olhares.
Horemheb :
Aziru, por vós empossado como Governador da Síria, rendeu-se
à pressão dos hititas e se aliou a eles.
“Todas as terras do rei caminham para a ruína” - escreveu-nos Abdkiba, prefeito de
Jerusalém. O abandono da Palestina,
pelas desordenadas tropas egípcias, é uma verdadeira catástrofe !
Tutu :
Jerusalém era a última das cidades fiéis ao Egito. Agora, capitulada, marca a ruína total do
nosso poderio na Ásia.
Aý :
Tushrata, rei do Mitani, foi assassinado. Os hurritas, sob ordens de Artatama,
invadiram por pouco tempo o Mitani, perseguindo Matiwaza, o assassino.
Tutu :
Este, refugiou-se no Hatti e Supiluliuma decidiu seu direito
sobre o trono. Invadiu e assolou o
Mitani, coroando-se rei e dando-lhe a mão de sua filha.
Aý :
Burnaburiash, rei da Babilônia, teme uma investida hitita e
está arregimentando tropas.
Tutu :
O futuro agora depende dos hititas. Depois dessa vitória sobre o Mitani,
certamente atacarão a Babilônia ou talvez o próprio Egito, que é presa fácil,
pois está desamparado e sem defesa.
Horemheb :
Eles farejam a desgraça do Egito. Os carros de Aziru e
Supiluliuma foram avistados fazendo reconhecimentos e incursões pelo Sinai,
rompendo o tratado de paz.
Ramez :
O povo diz que foi o vosso deus quem trouxe esta
situação. A terra está amaldiçoada,
porque Amen foi deposto.
Horemheb :
Considerando a gravidade da situação, grande ‘shay’, mandai
soar as trombetas, reunir os estandartes e declarai guerra. Poderei convocar
todos para pegar em armas... e até mesmo o sacerdócio de Amen o fará, para
salvar o Egito de uma catástrofe.
Reconciliai-vos com os sacerdotes e restaurai Amen em seu poder, para
que o povo o venere e se pacifiquem os espíritos.
Akhenáten :
Como ? Renunciar a
Áten ? Isto nunca !
Tiý :
Filho adorado, é inútil lutar, pois a luz de Áten morre no
poente. Amen está revivendo em todo o
Egito.
Akhenáten :
A luz de Áten morre no poente, mergulha no abismo infernal,
reúne forças, nutre-se da umidade e, pela aurora, nasce triunfante, dispersando
as trevas e iluminando o Egito. Aconteça
o que acontecer jamais recorreremos à guerra.
Não quero derramar sangue, pois o amor está acima de tudo. Se todos acreditassem em Áten, saberiam que
as guerras não são da vontade de deus.
Somente a paz e a harmonia vêm de deus.
Tiý :
Teus olhos te cegaram para a realidade !
Akhenáten :
Como poderei ser feliz, se para salvar o Egito eu decrete a
guerra e extermine os meus semelhantes ?
Oh ! caríssima mãe, como poderei gozar a riqueza e o poder sobre os
quais há o sangue dos meus irmãos ? Se
for da vontade de Áten que percamos as pocessões asiáticas, quem sou para me
opor aos seus desígnios ?
Seja conforme dizes... que prevaleça a loucura !
Horemheb :
Que decidís, senhor, para o bem de vossa terra e do vosso
povo ?
Akhenáten :
Que o escriba Ahmósis registre o que se disser e que os
arautos anunciem ao povo. [ o faraó, empunhando o báculo e o chicote,
levanta-se ] Devido a minha fraqueza há fome na terra de
Kemit e os hititas estão preparando uma invasão através da Síria. Tudo isso está prestes a acontecer... porque
não ouvi com a sufuciente clareza a voz do meu deus e não realizei a sua
vontade. Agora, ele se revela a
mim. Permiti que os demais deuses
reinassem ao lado de Áten, mas eles escureceram os límpidos céus de Kemit. Devem, portanto, desaparecer, para que
prevaleça uma única luz. Hoje se inicia o reinado de Áten sobre a terra
!!! Funcionários, escultores e
operários, vós todos que me amais, empunhai vossas clavas e malhos e ide de
cidade em cidade, de aldeia em aldeia, derrubar os falsos deuses e apagai seus
nomes dos monumentos e túmulos ! Assim,
libertaremos o Egito da servidão do mal !
Salve Áten vivificante, que dispensa luz e calor sobre os que o amam
! [ e
indicando com o báculo o escriba, acrescenta : ] Assim está escrito... assim se fará !
Horemheb : [ aproximando-se do rei ]
Horemheb, “Comandante das Portas do Norte”, pede vênia para
se retirar.
Akhenáten : [ sentando-se no trono ]
Meu bom amigo Horemheb.
Que vossa espada sirva para matar, não os vossos semelhantes, mas para
liquidar o nome de Amen e dos outros deuses, que trouxeram a ruína para o
Egito.
Horemheb :
Prometo-vos, senhor, que jamais os hititas pisarão este solo
sagrado. Minha espada estará a
espera-los, pois sou Horemheb, o filho do falcão.
Akhenáten :
Proíbo-te que
declares guerra Horemheb ! Podes tomas
providências para a defesa do Norte, mas não derramar sangue. Apenas isso
! [ Horemheb se retira com Ramez e
Tutu ]
Aý : [ passando
desprezível pelo faraó ]
Akhenáten, atirai fora a dupla coroa e quebrai os cetros,
porque as palavras que proferistes já derrubaram o vosso trono.
Akhenáten :
O que proferi trouxe imortalidade ao meu nome e me firmou no
coração dos homens para todo o sempre.
Tiý :
Filho meu, amado filho meu !
A visão do teu deus te fez esquecer que a paz aqui na terra só pode ser
conseguida à sombra das armas. Estás
louco ! Brincas com um trono e com a
glória de Kemit ?
Akhenáten :
Sim, estou louco ; louco para semear o amor e a justiça de
Áten sobre a terra, para a glória de Kemit.
Tiý :
Amanhã aproveitarei a brisa do grande mar e navegarei para
Tebas. Adeus, meu filho. Cuide-se ! O que decretaste não foi o estabelecimento do
reinado de um deus, mas a tua própria morte.
Cuidado, o fim está próximo !
Akhenáten :
Que sejas feliz, minha mãe.
Amanhã despontará uma nova aurora para as Duas Terras. Que elas se rejubilem com a graça de Áten, o
Único ! Deixai conosco o pequeno
Tut. Desejaria instruí-lo nas novas
maravilhas do espírito. Diga a Smenkará
que desejo revê-lo. Que venha para
Akhetáten. Juntos, entoaremos lindas
preces ao sol !
Tiý : [ chorando, se retira ]
Estás louco, meu filho, louco !!!
Fecha-se o pano .
1º ATO - cena
3
Akhenáten, à meia-luz, eleva um hino
ao Sol, estampado numa estela calcárea à sua frente. / jogos de luzes [ abre-se o pano ]
Akhenáten :
Brilhante é a terra quando te ergues no horizonte / Ó
Áten vivificante, que exististe em primeiro lugar ! /
Quando tu brilhas, é banida a escuridão.
/ Quando te ergues no lado leste
do horizonte, / enches toda a terra com tua beleza. / As
Duas Terras diariamente se rejubilam
/ levantam-se e se mantêm de pé,
porque tu as ergueste. / Banham seus membros, tomam suas vestes; / Erguem
os braços em adoração ao teu despontar,
/ pois tu és belo e reluzente, lá
no alto ; / Teus raios abraçam os países e tudo o que
criaste. / As hastes começam a brotar, quando beijas o
solo. /
Tu és Rá e a todos seduziste.
/ Apesar de estares nas alturas,
tua pegada é o dia ! / Os barcos navegam a montante e a
jusante; / O peixe, no rio, salta diante de ti, / e no
mar, teus raios se esparsam. / Foste tu que criaste a criança na
mulher, que deste ao homem a
geração, / que a acariciaste para que não chorasse
: /
uma ama, dentro do seio materno !
/ Quando ela nasceu do corpo, no
dia do seu nascimento, / tu lhe abriste a boca em palavras. / Tu a
supriste com o que necessitava. / Deste vida para animar tudo que existe, com
teu sopro. / Quando a avezinha brada, inda no ovo, / tu
lhe dás ali mesmo o alento para a vida.
/ Fizeste as estações do ano para
criar tuas obras; / O inverno para refrescá-las; / Da
mesma forma o calor, do verão. / Fizeste o horizonte longínquo para nele te
ergueres, / para veres tudo aquilo que criaste, /
enquanto estavas sozinho, / rebrilhante em tua forma, como Áten
vivificante. / Despontando, brilhando, afastando-se e
retornando. / Tu és brilhante, claro e forte ! / Teu
amor é grande e poderoso !
[ Akhenáten prostra-se no chão e assim
permanece / ouvem-se gargalhadas. / como
numa visão, aos poucos, vai aparecendo o deus... ]
Amen-Rá :
Pobre Akhenáten... um louco, um imbecil. Meu trono deve ser purificado ! Levantem-se as vozes de toda terra ! Que gritem ansiosamente pelo meu nome ! [ vozes : ‘Salve Amen-Rá’, ‘Amen-Rá,senhor do
céu’, ‘Soberano da eternidade’... ]
Eu sou Amen-Rá, rei dos deuses, senhor de Tebas e de todo o
Universo. Ajoelhai-vois todos, chacais
imundos, prostrai-vos em adoração a mim, vosso deus e vosso0 criador ! [ exibe
a chave ‘ank’ ] Com esta chave regulo as inundações do Nilo,
que vem a esta terra para dar-lhe vida.
Os campos se enverdecem, brotando as hastes. [ mostra
a cimitarra ] Com minha cimitarra
ceifo os campos, os celeiros se enchem dos grãos e os bens se multiplicam. Meu nome percorre todos os lugares por onde
caminha o sol. Eu sou Amen-Rá, o
poderoso !
Akhenáten :
Devo estar embrutecido !
Onde estão os que confiavam em mim ?
Onde estão os que me eram fiéis, os que me amavam e que eu os amava
? Me abandonaram... estou só, unicamente
só ! Mas, que fiz ?
Amen-Rá :
Tu me desprezaste e me repudiaste, maldito ! Antes te chamavas Neferkheperurá Waenrá Amenhetep. Teu nome me homenageava. E agora, como te chamas ?
Akhenáten :
Akhenáten... o que serve o sol. Isto porque desprezava os
teus sacerdotes, adoradores fetichistas, mercadores de livros mágicos e
escaravelhos sagrados, inspirados na superstição e na magia. Viam tua vontade no tinir das armas,
adoranto-te em templos escuros. Exigias
pesados tributos para engordar teu exército eclesiástico.
Amen-Rá :
O meu culto é o sustentáculo do Egito, Amenhetep !
Akhenáten :
Sim, e a fonte de renda dos sacerdotes. Teus domínios e propriedades constituíam um
Estado dentro da nação.
Confisquei-os. Vi no sol a morada
de deus... Áten o invisível. Por ser
invisível sempre existiu, fez tudo aparecer sem se mostrar e tudo manifesta a
sua aparência.
Amen-Rá :
O povo nada entende, Amenhetep. Está acostumado a superstições, a
feitiçarias, a mitos.
Akhenáten :
Agora estou só; todos me abandonaram como ratos abandonam o
navio ao naufragar. Tu, amaldiçoado
Amen, destruíste o meu trono, a minha família, o meu império !
Amen-Rá :
Tu te degeneraste, Amenhetep. DesprezasteNefertite, raspando-lhe o nome dos
monumentos. Juntaste-te a inúmeras
mulheres, entre elas Khya e Ankhsenpaáten, tua terceira filha, que te deu outra
menina. Associaste ao trono Ankhkeperá
Smenkará Tjeserkheper ao trono, casando-o com Meritáten, tua primogênita...
Akhenáten :
E enviei-os a Tebas , para que o adorassem, recitando preces
em tua homenagem. Desejo a paz, só a paz
!
Amen-Rá :
Paz ? Tu me declaraste guerra santa, Amenhetep ! Então, meus sacerdotes prognosticaram grandes
catástrofes ao povo, porque me destronaste.
Dos esconderijos dos meu grandioso templo de Karnak saíram as armas para
a luta com teus míseros adeptos. E tu,
recitavas hinos ao sol e se lastimava porque estourara a luta civil. Centenas de cartas chegaram da Ásia,
implorando teu auxílio. E tu,
permanecias impassível. Agora, teu
co-regente está morto - seu corpo foi encontrado boiando nas águas no
Nilo... assassinado !!! Eu venci,
Amenhetep ! Amen venceu !!! [ um
servo conduz uma taça ao faraó ]
Servo :
Bebei, faraó Akhenáten.
Bebei para ficardes mais forte !
Akhenáten : [ olhando
para a estela ]
Salve, ó tu que te ergues no horizonte, que iluminas o céu
no teu carro de ouro ! Aspiro novamente
o doce aroma que vem de tua boca. Hoje,
a morte é mais serena que o perfume do incenso.. Do sol vim, ao sol retorno, para a
eternidade.
Amen-Rá :
Eu venci, Akhenáten, venci !
Akhenáten :
O reino eterno não pode ser contido dentre os limites
terrestres. Tudo voltará ao que dantes
era : medo, ódio e injustiça voltarão a reinar.
Queria não ter nascido para que não visse todo o mal que há na
terra. [ bebe o vinho envenenado ]
Servo :
Ó Áten, dá ao rei longa vida e paz eterna. Dá-lhe o que almeja meu coração, tanto quanto
há de areia no mar e de escamas nos peises...
[ retira-se ]
Akhenáten :
Áten, tu és brilhante, claro e forte ! Teu amor é
gran.....de e po...de...roso.... [ morre
]
Amen-Rá :
Morre, louco miserável, para que o trono de Kemit seja
purificado ! Que sejam riscados da face
da terra, do Norte ao Sul, do Leste ao Oeste, teu nome hereje e o do teu deus,
para todo o sempre e sempre... Sobre ti, a minha maldição !!!
Fecha-se o pano .
2º ATO -
cena 1
Abre-se o pano .
Templo de Karnak. Soam as trombetas. Enquanto isso, entram 2 sacerdotes e o
grão-sacerdote, com vasos de libação e o cetro ‘was’. Inicia-se um canto sacerdotal e se efetua a
purificação do recinto, com incenso. Sobre
um estrado branco está a cadeira sacerdotal, sem o escabelo. Ao fundo da sala, um ‘naos’ dourado.
Imutef : [ erguendo os braços ]
O fogo arde ! O fogo
arde ! Queime-se o incenso e a mirra do
Punt, a terra dos deuses, para afugentar os espíritos do mal ! Que o perfume suba em oferenda até os deuses,
para que se rejubilem e derramem ventos de graças sobre nós. [ prossegue-se
o canto sagrado, enquanto se purificam os vasos ] Que o fogo queime os gênios malignos e que
a água purifique nossas mãos de todas as culpas. [ duas
dançarinas, envoltas em linho, executam uma dança ritual : a do fogo e a da
água / queimam incenso / terminada a
dança se retiram / entra a corte ]
Arauto :
A soberana cheia de graça, a senhora sobre o Norte e o Sul,
de semblante claro, alegre entre os adornos, querida por Áten, rica de amor,
preferida pelo Osíris-rei, Nefertite, a eternamente viva ! [ tambores / a
corte se inclina / ela é incensada pelos sacerdotes / senta-se num pequeno
acento ]
Arauto :
Sua majestade, escolhida entre as mais belas, a maior da
Casa das Mulheres, grande rainha Ankhsenpaáten, herdeira do trono de Hórus e
favorita do príncipe, para todo o sempre !
[ ela é incensada e senta-se em
outro pequeno acento, ao lado da cadeira sacerdotal ]
Imutef : [ ergue os braços, olha para o céu ]
As palavras que se pronunciam estão carregadas de eficácia
contra os inimigos do poder. Saúde a vós todos, Senhores do Céu e da Terra
! Ó vós, deuses do Norte e do Sul, do
Leste e do Oeste ! Abrí as portas do céu
! Abrí as portas do firmamento ! Abrí para o novo faraó, vosso filho, um
caminho no céu entre as estrelas imortais !
[ outro sacerdote queima
incenso / tocam as trombetas / entra na sala o príncipe
– um porta-abano e estandartes o acompanham / veste um saio plissado / cabeça
raspada, com trança real, ‘aba’ na mão / pára antes de subir as escadas e
levanta o braço esquerdo / os sacerdotes vêm purifica-lo e esfregam-lhe óleos
consagrados ]
Ankhsenpaáten :
Que se dê inicio ao batismo ritual ! [ o
príncipe ajoelha-se, coloca o dedo indicador direito na boca / os sacerdotes,
com máscaras de Seth, Hórus e Thot se posicionam ao lado do príncipe, nos
pontos cardiais ]
Imutef : [ no Oeste ]
Que esta água, purificada pelo deus Dumani, te cubra das
melhores qualidades ! [ derrama-lhe água
]
Thot : [ no
Leste ]
Que esta água, purificada pelo deus Thot, te traga sabedoria
para governar o Egito ! [ derrama-lhe
água ]
Seth : [ no
Norte ]
Que esta água, purificada pelo deus Seth, te traga força e
coragem para esmagar os inimigos do Egito !
[ derrama-lhe água ]
Hórus : [ no Sul ]
Que esta água, purificada pelo deus Hórus, te ajude a
conquistar e manter unidas as duas terras de Kemit ! [ derrama-lhe
água /
os sacerdotes se ajoelham / o
príncipe se levanta ]
Tut :
Eu me nutri da umidade, no oceano primordial. Nasci da flor
de lótus que brotou das águas, como o pássaro da Luz. Sou o filho de Rá que se protege a si
mesmo. Nenhum princípio mal poderá
destruir-me ! [ os sacerdotes se levantam e aspergem-lhe água ]
Sacerdotes :
Teu nome fulgura entre as estrelas imortais ! [ Hórus
e Seth o conduzem até a capela ‘naos’ ]
Imutef :
Defronte às capelas do Alto e Baixo Egitos, unidas na Casa
Grande, o divino santuário, erguemos nossas preces a todos os deuses dos quatro
ventos. Um novo rei sentar-se-á no trono
do mundo, com as vossas graças. [ corta-lhe a trança principesca e toma-lhe o cetro ‘aba’ ] Deixaste de ser um herdeiro, predileto aos
deuses. Louvado sejas ! [ coloca-lhe a barca postiça ] Agora sois um novo faraó, descendente divino
de teus ancestrais. Longa vida ao rei
! [ todos
dizem : ‘ Longa vida a faraó, nosso deus’.
/ todos se ajoelham / Imutef coloca-lhe uma peruca ]
Sacerdote 1 : [ mostra-lhe a serpente e coloca-lhe sobre a peruca ]
A serpente ‘uraeus’, a Grande Mágica, símbolo da sabedoria e
da energia criativa, emblema da supremacia divina e humana, do poder temporal e
espiritual, coroa a tua fronte !
Tut : [ abrindo os braços em forma de ‘ká’ ]
Que seja aniquilada a mão que se levante contra mim. Que sejam estraçalhados os que toquem a minha
forma, o meu nome e as imagens da minha aparência. A real ‘uraeus’ que coroa minha fronte
vomitará labaredas sobre suas cabeças e estas quedarão onde antes tinham os
pés. [ agitam-se sistros em volta do rei / queima-se incenso / inicia-se uma música ritual que acompanhará
toda a coroação. Hórus e Seth o conduzem
pelas mãos à cadeira sacerdotal /
tiram-lhe a peruca ].
Hórus : [ cingindo-lhe com a coroa ]
Sobre tua cabeça, o ‘hedjet’
- a coroa branca do Alto Egito
! [ sistros
]
Seth : [ cingindo-lhe com a coroa ]
Sobre tua cabeça, a coroa ‘net’ – do Baixo Egito ! [ sistros
]
Imutef :
Sobre tua cabeça, o ‘pa-shenti’ – a dupla coroa ! [ sistros
]
Todos :
Para todo o sempre !
Sacerdote 1 :
Sobre tua cabeça, a coroa ‘atefu’ – do deus Rá, Senhor da
Luz ! [ sistros e incenso ]
Sacerdote 2 :
Sobre tua cabeça, o ‘kheperesh’ - do teu domínio sobre a terra ! [ sistros ]
Sacerdote 1 :
Sobre tua cabeça, a coroa ‘shenti’, com as duplas penas da
paz ! [ sistros ]
Sacerdote 2 :
Sobre tua cabeça, a tiara ‘seshed’ - com as divindades supremas do Alto e Baixo
Egitos : o abutre ‘Nekhabit’ e a serpente ‘Uadjit’. [ antes
de colocá-la, põe-lhe uma peruca / o
sacerdote Imutef coloca-lhe o colar das divindades ]
Todos :
Longa vida a faraó, divino deus !
Sacerdote 1 : [ amarra-lhe à cintura, uma cauda simbólica
]
A cauda simbólica, instituída por Aha Menés, dá-te valentia
e força como a um touro possante !
Sacerdote 2 : [ entrega-lhe uma clava ]
A clava ‘hedj’ arrebentará o crânio de teus inimigos !
Imutef :
Que teus pés pisoteiem os 9 povos hostís e aniquilados
permaneçam ! [ coloca o escabelo com as figuras hieroglíficas, para faraó pisá-los
]
Tut :
Amen-Rá deita meu poder em todos os países e o temor pelo
meu nome até os limites dos esteios do céu.
Imutef :
Os deuses te concedem uma titulação real, com 5 nomes :
Sacerdote 1 :
“Hórus, touro forte, amado de Tum”.
Sacerdote 2 :
“Rei do Alto e Baixo Egito, Senhor das Duas Terras,
Nebkheperurá”.
Sacerdote 3 :
“Filho do Sol, Senhor dos Tronos, Tutankháten”.
Sacerdote 1 :
“Senhor das Damas do Alto e Baixo Reinos, amado por Rá,
Filho de Ptah”.
Sacerdote 2 :
“Hórus de Ouro, Senhor da Justiça divina”.
Tut :
Minhas palavras são justas.
Todos :
Justas são tuas palavras, imperecíveis como as estrelas.
Imutef :
Os deuses do Norte e do Sul executarão a cerimônia ‘Sma Tauy’, unindo as Duas Terras, perante o
faraó. [ depois de fazerem o nó, amarrando-o no símbolo, os dois deuses
entregam-lhe o báculo e o chicote ]
Hórus :
Tua sagrada mão direita recebe de Hórus, deus do Alto Egito,
filho de Ísis, o cetro ‘nekhaeka’ - que te concede poder sobre os servos e
vencidos e o domínio do campo.
Seth :
Tua sagrada mão esquerda recebe de Seth, deus do Baixo
Egito, o cetro ‘heka’ – que te concede poder sobre toda a nobreza e o controle
dos sentimentos.
Imutef :
Tu és ‘maat’ – o princípio de uma força cósmica de harmonia,
segurança, ordem, estabilidade, justiça, verdade e retidão !
Tut :
Eu sou ‘maat’.
Imutef :
Tu és ‘hu’ - o
princípio da ordem criadora !
Tut :
Eu sou ‘hu’.
Imutef :
Tu és ‘sia’ - a
percepção, a compreensão !
Tut :
Eu sou ‘sai’ e estes são os atributos de minha divina
realeza. [ os sacerdotes tiram-lhe a peruca e prendem-lhe um ‘nemes’ / cobrem-no
com anéis e uma pulseira de escaravelhos ]
Sacerdote 3 :
Recebei o escaravelho ‘Kheper’ – da existência, nascimento e
ressurreição, para garantir a persistência do ser e a tua imortalidade.
Tut :
Que o meu nome seja belo, que seja suave ao ouvido daquele
que o escutar : “Rá é senhor de muitas formas” !
Imutef :
Thot, o escriba divino, escreverá teu nome em um fruto da
‘iched’, a árvore sagrada de Heliópolis, assegurando a ti inúmeros
jubileus. O fruto da ‘iched’ tráz a
semente de uma nova árvore divina que teu espírito real fará germinar em campo
propício. [ enquanto Thot escreve, o faraó senta-se ao trono ]
Tut :
A princesa favorita, carregada de louvores, Ankhsenpaáten, é
dona dos encantos do amor - meiga,
bem-amada, soberana das Duas Terras.
Imutef : [ com a coroa dourada nas mãos }
A meiga, a meiga bem-amada, diz o rei Nebkheperurá. A meiga
bem-amada, dizem os deuses. Soberana do
amor, dizem as deusas. [ coroa-a ] Salve, esposa do rei, por ele escolhida
entre as milhares ! Salve divina rainha,
Senhor das Duas Terras !
[ sacerdote 1 dá-lhe o cetro / sacerdote 2 a purifica e ela vai sentar-se ao
lado de Tut / Imutef oferece a faraó um
vaso de ofertas / todos se ajoelham enquanto Tut oferece-o à
estátua de Amen / depois volta para o trono ]
Tut : [ empunhando os 2 cetros ]
Decreto de Minha Majestade, o rei do Alto e Baixo Egito, Nebkheperurá, filho do sol, Tutankháten, sua imagem viva para sempre. Assim fala Minha Majestade : para festejar este acontecimento concedo anistia a todos os prisioneiros políticos e religiosos, para beberem à minha saúde. Que as trombetas soem por toda Kemit. É chegada a hora de restaurarmos a nossa glória militar. Os hititas estão avançando. Querem saquear nossa terra, violar nossas mulheres, escravizar nosso povo. Os deuses do Egito, na minha pessoa, lhes declaram guerra ! Nomeio o general Nakhtmin, escriba real e porta-leque da direita do rei. Nomeio Maya, Intendente do Tesouro e Horemheb, Delegado das Portas do Norte e defensor oficial das posições egípcias na Ásia, ainda por conquistar. Assim decreta Minha Majestade – saúde, vida, proteção - cuja bondade provém de Amen-Rá, que fez a eternidade e a duração !
Imutef :
Os deuses abençoam o novo rei. Para que a plebe veja o deus vivo, faraó
seguirá em um cortejo triunfal até o palácio de Málgata, no seu carro de ouro,
brilhante como0 o sol ! [ retiram-se ao som de música festiva ].
Fecha-se o pano.
Fecha-se o pano.
2º ATO - cena 2
Abre-se o pano.
Sala do trono / 3 damas conversam.
Túi :
Dama Neit, seu esposo virá assistir à cerimônia ?
Neit :
Não, Túi. Ele está em viagem oficial pelo Baixo Egito
arrecadando impostos.
Túi :
É um serviço bastante ingrato, não é ?
Neit :
Parece ser, Túi. Ele me relata muitos casos. Como você sabe
o vizir quase sempre ordena que os lavradores em atraso com os impostos sejam
espancados. Então, vêm as lamentações.
Túi :
Deve ser dificílimo fiscalizar os campos.
Neit :
Sim, principalmente para superar uma crise econômica. Foi
muito trabalhoso disciplinar os lavradores depois da heresia de Akhenáten –
maldito seja o seu nome !
Túi :
E você se lembra quanta gente morreu depois que o divino
faraó e a soberana rainha mudaram seus nomes e decretaram o restabelecimento
dos santuários de Amen ?
Neit :
Bem me recordo ! “Que
o nome de Áten seja apagado onde quer que seja encontrado... e seus templos
destruídos”.
Túi :
Essa foi a ordem do faraó!
Os sacerdotes julgavam, castigavam e matavam.
Neit :
Quantos foram enterrados até a cabeça, sob o sol do deserto,
até morrerem de sede, ou serem devorados pelas hienas famintas. Quantos perderam as línguas, orelhas, os
narizes – porque não quiseram renegar a antiga fé. Quantos hereges foram dependurados nús, de
cabeça para baixo, enquanto os histéricos os martirizavam !
Túi :
Tudo feito para satisfazer a ira dos sacerdotes ! ...
Ora, veja quem chega !
Neit :
Que Hathor te embeleze cada vez mais, Nefert !
Túi :
Hummmm ! Que
agradabilíssimo aroma !
Nefert :
É um novo perfume, senhoras, preparado com gálgamo e mirra
moída. Ganhei 5 cones de meu amante
sírio, por ocasião da última festa Opet.
Neit :
Dizem que possues uma túnica riquíssima em púrpura e ouro,
vinda da Babilônia, é verdade ?
Nefert :
Claro, querida. Não
só uma túnica em ouro e púrpura, mas uma variedade de finíssimos tecidos. Pois,
de que valeriam os amantes, senão para me presentearem ?
Afinal... quem será recepcionado ?
Túi :
Ora, flor dos pântanos, acaso não sabes ? Um dos melhores amigos do rei receberá o
sinete de “Vice-Rei de Cuxe” !
Neit :
E o faraó está enamorado das lindas sudanesas que Unher, a
mãe desse fidalgo, enviou-lhe do Sudão.
Nefert :
Ora, para isso ela é a matrona do harém !
Merit : [ entrando ]
Salve senhoras !
Saúde a todas !
Neit :
Saúde, Merit ! E tua
irmã, não vem à festa ?
Merit :
Não. Imeret está
traumatizada hoje.
Túi e Nefert
:
Traumatizada ???
Merit :
Sua serva mais dedicada, pura como a luz do seu deus,
suicidou-se esta madrugada. [ expressão de espanto ] Junto ao corpo envenenado encontraram um
pequeno amuleto com o símbolo de Áten e uma estrofe do ‘Hino do Sol’.
Túi :
Que teria acontecido ?
Merit :
Um sacerdote de Amen disse que iria busca-la para banhar-se
com ele no lago sagrado. Sabedora do que a aguardava, preferiu matar-se.
Neit :
Era uma criatura muito meiga ! Jamais praticou algum mal. Que seu ‘ká’ eleve-se ao Sol, a quem amava !
Nefert :?
O abandono de Akhetáten é um crime, senhoras. Quando o barco em que navegava passou por lá,
ousei lançar uma olhadinha sobre a cidade maldita. O deserto voltou a se apossar onde tinham
sido o jardim exótico do hereje. Os
lagos e as árvores secaram ; as fossas de irrigação ficaram entupidas ; a argila dos estuques das casas ruiu ; os tetos abateram-se. A cidade inteira está em ruínas. Na riquíssima sala do trono, dizem, estão
ninhos de chacais.
Túi :
Também ouvi dizer que um maravilhoso busto de Nefertite,
semi-destruído, está sepultado nas areias que envolveram o atelier de Thotmés.
Nefert :
Era belíssimo !
Cheguei a vê-lo, certa vez, quando estive com o escultor. Jamais, senhoras, jamais o Egito viu uma obra
semelhante !
Merit :
Guardemos silêncio, queridas... eis o monstro que se
aproxima ! [ o
sumo-sacerdote vem incensar o recinto /
chegam mais pessoas ]
Nena :
... o rei é valente como um touro possante.
Mutef :
Bravo mesmo é Horemheb !
Nena :
Seja quem for, a Síria, o Líbano e a Palestina, há 6 anos,
enviam seus tributos !
Siptah :
Meu primogênito esteve na primeira campanha, quando a armada
egípcia bloqueou a Síria. Ele dizia que
as cidades andavam sempre em escaramuças umas com as outras e os espiões de
Horemheb atiçaram o descontentamento delas, espalhando relatos exagerados das tropas
sudanesas que chegariam ...
Mutef :
Mas a vitória não foi tão fácil. Azirú reuniu forças no interior do país,
juntou-os com 4 batalhões hititas e enfrentou Horemheb.
Siptah :
Somente após a reconquista da Síria, que faraó acompanhou
Horemheb nas outras campanhas...
Nena :
Então, veio o novo tratado de paz ...
Mutef :
Assim foi escrito :
“O grande príncipe do Hatti não violará as terras do Egito, nunca
jamais, para tomar algo dela ; e o grande rei do Egito não violará as terras do
Hatti, para tomar algo delas, nunca jamais.”
Nena :
Os mil deuses masculinos e femininos do Hatti e os mil
deuses masculinos e femininos do Egito testemunharam os juramentos.
Siptah :
E quando o novo embaixador hitita veio a esta sala
apresentar credenciais, ofereceu a faraó um pequeno mas valioso presente do
povo irmão !
Nena :
Uma lâmina de metal negro !!!
Siptah :
Faraó mandou adaptar-lhe um cabo egípcio, uma baínha toda
incrustada e nunca o tirou da cintura, desde então.
Nena :
O rei dirige o país como um deus - os
sacerdotes estão gratos a ele, por tudo o que fez.
Mutef :
Estátuas em ouro e pedrarias abarrotam os templos. Santuários de Amen-Rá foram erguidos
pessoalmente pelo faraó em Faras e Kawa, nos territórios de ‘Wawat’.
Nena :
As Duas Terras nunca foram tão unidas como agora. Os festejos de Opet patentearam este ano a
grandeza do rei. Quantas cerimônias
pomposas, quanto gado, quanta riqueza, quanta prosperidade para o Egito !
Siptah :
Os melhores escultores e canteiros de Tebas estão retratando
nas paredes do templo de Karnak, todas as fases do evento... [ Taemuadjes
e Pasar entram na sala / sentam-se num lugar de destaque, que lhes é
indicado pelo sacerdote ]
Nefert :
Quem são ?
Neit :
Ela é Taemuadjes, esposa de Huý... e o rapaz é Pasar, seu
filho.
Nefert :
Ele me cativa : é forte e majestoso como um leão ! Só que
parece meio inibido !
Túi :
Reserve-se Nefert.
Deixe a sedução para a festa, querida.
Faraó está para chegar...
Nefert : [ deixando as companheiras ]
Vida e saúde, grande dama Taemuadjes. Queria expressar a minha admiração e seus
cumprimentos pelo novo cargo do vosso marido ...
Taemuadjes :
Sois muito amável, senhora ...
Nefert :
Nefert... Nefert é o meu nome.
Taemuadjes :
Vossa formosura bem traduz a delicadeza desse nome. Este é Pasar, meu filho.
Pasar :
A flecha desse olhar tem na ponta uma carícia que não está
reservada senão aos corações amorosos, encantadora Nefert.
Nefert :
Meu coração se contenta ao ouvir vossas meigas palavras, ó
príncipe de Cuxe !
Pasar :
Gostaria que me fizesses companhia durante o banquete,
adorável Nefert.
Nefert :
Durante a festa poderei te servir melhor que ninguém, todas
as guloseimas. Farei com que o vinho
tebano te seja mais doce e suave...
Depois, poderemos navegar mansamente entre os pântanos de junco, à luz
do luar prateado !
Pasar :
Isso seria maravilhoso !
Taemuadjes :
Vejo que cativaste o meu filho, dana Nefert. Amanhã partiremos para os nossos domínios,
onde o nosso palácio estará sempre aberto para recebê-la.
Nefert :
Agradeço o generoso convite, senhora - será
uma grande satisfação ! Logo mais,
estarei no ‘Refúgio das Pirâmides’, ao vosso lado, belo príncipe. Longa vida a vós e a vosso esposo, senhora
! [ retira-se
]
Siptah :
Aquela gata mimosa já feriu o príncipe com suas garras
sedutoras ...
Nena :
Afinal, amigos, quem é o nobre Huý ?
Siptah :
Não sei lhe dizer muita coisa, porque sua província é
distante. Mas sei que Akhenáten lhe
conferiu inúmeros títulos : “Mensageiro
do Soberano em todas as Terras” , “Pai-Divino” , “Porta-leque à direita do Rei”
, “Intendente do Gado no país de Cuxe” ...
Mutef :
“Intendente das Minas de Ouro do Senhor das Duas
Terras” e “Bravo de Sua Majestade na Cavalaria” ...
Siptah :
Mutef. Mudando de assunto, os médicos estão divulgando uma
antiga receita para a calvície, escrita num antigo papiro. Você poderia esperimentá-la !”
Mutef :
Parece-me que já ouvi dizer ...
Siptah :
É preparada com caroço de tâmara, patas de cão e mocotó de
burro. Deves cozer em azeite e passar na
cabeça, por vários dias...
Aý : [ proclamando bem alto ]
O filho de Amen, nascido do touro de sua mãe, assim como
Nut, Senhora do Firmamento, criado com o seu divino leite, o senhor dos tronos
do mundo, o deus Nebkheperurá, doador da vida, semelhante a Rá para todo o
sempre ! [ pequena pausa ] A grande esposa real, que amamenta e nutre o
rei Tutankhamen com o mel silvestre do paraíso, a senhora do Alto e Baixo
Egito, Ankhsenamen, por ele amada !
[ soam fortemente as
trombetas / todos se inclinam
protocolarmente / alguns se ajoelham /
Tut está vestido com um manto plissado sobre o ‘chendjit’ /
segura o báculo e o chicote na mão direita e a
clava na esquerda / ‘kheperesh’ na cabeça / a
cauda na cintura / a rainha em traje de gala /
todos se postam por terra ]
Tut : [ sentado
no trono, com a rainha ao lado ]
Dou-vos permissão para que se levantem... [ pequeno
silêncio ] Assim vos fala minha
majestade : Alegrai-vos, boa gente, na
minha presença. Sêde felizes, pois a mim
estais ligados. Minhas palavras concedem
a vida. [ trombetas / Huý é introduzido na sala, trazendo o
‘khua’ / inclina-se perante o rei ]
Porta-selos :
O faraó te transmite a região desde Hierakômpolis até Napata
!
Huý :
Possa Amen de Napata agir de maneira que tudo seja conforme
ordenastes, ó soberano, meu senhor !
Taemuadjes e Pasar :
Vós sois o filho de Amen, ó Nebkheperurá ; possa ele fazer com
que venha a vós os chefes de todos os países estrangeiros, trazendo os tributos
de suas terras.
Porta-selos :
Sua Majestade te transmite o ofício de “Vice-Rei do Cuxe” ! Seu divino nome, neste selo, deve ser usado
por ti, segundo a vontade do teu amo e senhor, Tutankhamen – saúde, vida e
proteção !
Huý :
Rendo graças a Vossa Majestade, ó Senhor das Diademas,
glorificado no trono de Hórus, como Rá, o eterno ! [ Huý
se aproxima do faraó e beija a cruz que lhe oferece o rei. /
música festiva acompanha o fechar do pano ]
3º ATO -
cena 1
Abre-se o pano.
Som de harpa. A rainha saiu do banho e está sendo
massageada por uma serva. Duas outras
acabam de lhe enxugar os membros. Outra,
abana-a incessantemente.
Serva 1 :
Este unguento odorífico refrescará vosso divino e formoso
corpo, majestade.
Rainha :
Hum ! É muito
cheiroso e suave ...
Serva 1 :
É um composto de terebintina e incenso – foi preparado
exclusivamente para vós, minha senhora.
Serva 3 :
Esta loção de leite de burra, alabastro, natrão, mel e alume
em pó, serve para eliminar as rugas e as manchas...
Rainha :
Ainda não as tenho, idiota !
Serva 3 :
Perdão, senhora.
Nefertite, vossa mãe, a usava por precaução. Pensei que ...
Rainha :
Podeis, então, esfregar-me !
[
prosseguem a massagem / serva 2 traz-lhe uma taça de vinho /
antes de oferecê-la à rainha ela prova ]
Serva 2 :
Excelente vinho do sítio do rei Tutankhamen, do rio
Ocidental. [ Ankhsenamen o bebe / levanta-se, vai para um aposento e volta
vestida com uma túnica de linho plissado
/ senta-se numa banqueta ]
Alvaiade para clarear a pele de minha soberana !
Rainha : [ segurando e olhando-se num espelho ]
Quero os lábios bem vermelhos de carmim ... que fiquem muito
sedutores... [ o carmim é aplicado com um pincelzinho ]
Serva 1 :
Desejais sublinhar os olhos com laquita verde ?
Rainha :
Não, agora não.
Sublinhe-os com pó de prata ...
[ ] Assim está bem. Bastante ‘khol’ nos cílios e nas
sombrancelhas... [ ]
Ótimo. Puxe bastante o traço nos olhos.
Serva 2 :
Dourado para os seios, senhora ?
Rainha :
Também não, somente à noite.
Serva 1 :
Esmalte rosado para as unhas ?
Rainha :
Sim, pode pintá-las ...
[ ] Depressa, que o faraó não tardará ! [ servas 2, 3 e 4 mostrando-lhe perucas ]
Serva 2 :
Qual delas, senhora ?
A preta é confeccionada com crina de cavalos árabes ...
Serva 3 :
A azul, de seda perfumada.
Serva 4 :
Esta outra, com fibras de plantas sagradas...
Rainha :
Escolho a preta !
Serva 1 :
Alguma tiara, senhora ?
Rainha :
Não, agora basta ! [
entra o faraó no exato momento em que a
serva 4 ia lhe trazer as sandálias /
todas beijam o solo / ele toma o calçado, ajoelha-se aos pés da
rainha e lhe calça / Ankhsenamen bate palmas e as servas se
retiram / -tema de amor- ]
Tut :
Tu és a deusa do amor, Ankhsenamen !
Rainha :
Ele chegou, esse deus magnífico, Amen em pessoa, sob a
imagem do meu esposo, ó amado !
Tut :
Tuas palavras são ouvidas como um encantamento de alegria !
Rainha :
Ardo de amor por ti.
Minhas mãos te protegem com o auxílio da vida.
Tut :
Tuas mãos tocam os sistros que fazem a felicidade de nosso
pai Amen-Rá !
Rainha :
Sou bela, porque me colocaste num trono, bem próximo ao Sol.
Tut :
Tu és o esplendor de minha vida ! [ coloca-lhe
no pescoço um colar dourado ]
Negra é a tua cabeleira, mais negra do que o escuro da noite, mais negra
do que a baga do abrunheiro silvestre.
Vermelhos são teus lábios, mais vermelhos do que as tâmaras maduras,
mais vermelhos do que o sol poente.
Rainha :
Ontem, quando visitava a Casa da Vida, o professor de língua
egípcia fez com que uma de suas melhores alunas me escrevesse uma poesia
... aqui está, na ostraka. Ouça como é linda : “Como é gostoso, ó meu amado, ir banhar-me no
lago, para que vejas toda a minha beleza, quando o fino linho de minha roupa se
ajusta nas curvas do meu corpo molhado.
Estou na água e regresso para ti com um belo peixinho vermelho escondido
nas mãos. Ó meu amado, vem e olha-me !”
Tut :
Que belo ! Isso fez
lembrar a minha infância, quando comecei a receber instruções. Aos 4 anos, comecei a ler e escrever o
hieróglifo e o hierático. Os outros
garotos traçavam suas primeiras letras nesses mesmos pedaços de calcário ou
cacos de cerâmica. Eu, recebia folhas de
papiro, onde então copiava as lições : poesias, contos populares, máximas dos
antigos sábios, fórmulas rituais. O
mestre corrigia com tinta vermelha os símbolos mal desenhados ...
Rainha :
Daqui há poucos instantes o sol se levantará no horizonte...
e precisamos saudá-lo.
Tut :
Então, vamos ...
3º ATO -
cena intermediária.
Numa varanda do palácio ...
O bom-deus Tutankhamen e a bem-amada rainha Ankhsenamen
rendem suas homenagens ao Sol nascente e a Happy, o grande Nilo, que começa a
extravasar... Eis [ apontando
para o Leste ] que desponta nos céus
do horizonte das Duas Terras, o escaravelho Kheper, rolando diante de si o Sol,
como o faz com a bola de excrementos, sobre a terra ! [ duas
servas banham os membros do faraó e
outras 2, da rainha ]
Tut :
Eu me banho com a força vital que provém de tua luz, ó
Kheper-Rá ! [ a rainha oferece um frasco de água ao Sol / Tut
segura um papiro que lhe oferece o sacerdote e lê, ao som de coro sacerdotal
] “Teu filho te saúda, ó senhor do céu,
que atravessas a eternidade. Tu nasces
! Tu brilhas ! Tu és o que tudo conténs. De ti viemos, em ti nos divinizamos. Ventos diurnos cantam em música através de
tuas cordas de ouro. Tu navegas pelo céu
e teu coração se alegra. Teu barco
matutino e teu barco vespertino se encontram com os bons ventos. Ó tu, perfeito ! Ó tu, eterno ! Ó tu que és único ! Grande falcão que voas com o Sol que voa
! Tua imagem fulgura como brilhante rio
celeste. A poesia do tempo rodopia a
teus pés, ó imutável - autor do tempo, tu próprio além de todo o
tempo. Levanto-me para beber tua luz
; tu és o hoje ; e o ontem
; tu és o amanhã ! Louvor a ti, Ó Rá, que tiras do sono a vida
! Milhões de anos já passaram - não
podemos contar seu número ! Milhões de
anos virão... mas tu estás além dos anos
!!! [ sacerdote toca o sistro, enquanto o faraó queima incenso / a rainha
ajoelha-se defronte a uma bacia cheia d’água
/ molha as mãos, erguendo-as e
deixando cair a água entre os dedos / repete o gesto, declamando : ]
Rainha :
“Louvado sejas, ó Nilo!
Saudado sejas ! Saúde a ti, que
vindes a esta terra dar-lhe a vida.
Quando adormeces, os mortais te entregam a vida, na miséria. Quando acordas, benigno e benfazejo, homens e
terras se rejubilam. Tombam os que te
contemplam em plena inundação. Tu és quem permite a vida ao homem. Suas feições se iluminam e se alegram os
corações dos deuses, com as oferendas.
Louvado sejas, ó Nilo, saudado sejas !”
[ tocam –se sistros / conclui-se a cerimônia ]
3º ATO -
cena 2
Abre-se o
pano.
Nos aposentos reais.
Nos aposentos reais.
Tut :
Querida. Antes de
navegarmos para o Baixo Egito, na primeira hora da tarde, vou inspecionar os
trabalhos de construção de minha morada eterna.
Será um belo hipogeu, no Vale Ocidental, atrás do rochoso paredão onde
se perfilam os templos de Nebhepetre
e Hatschepsut.
Rainha :
Queres que o acompanhe, amor ? Ou preferes que aqui permaneça, ultimando os
preparativos da viagem ?
Tut :
Como queiras, flor do Nilo.
Rainha :
Pois então, ficarei.
Tut :
Mande levar as duas camas dobráveis e portáteis de minhas
campanhas na Palestina. Quero algumas
concubinas à bordo.
Rainha :
Não ! Seremos só nós
!
Tut :
Ousas contestar-me ?
Rainha :
Eu sou a favorita, eu sou a rainha, eu sou o Egito, ... eu
sou a deusa que te sustenta no trono !
Basta de orgias ! Iremos até às
pirâmides ?
Tut :
Ó, sim, as pirâmides -
faremos uma prece ao deus Horakhte, o sol poente, representado na
Esfinge.
Rainha :
Ela é o símbolo da união da força com a inteligência. Viu o
nascer de todos os sóis que os homens têm na lembrança !
Tut :
Meu nome será imorredouro, tanto quanto os dos meus
antepassados que ergueram aqueles monumentos, os mais famosos do mundo !
Rainha :
São o trono do Sol ...
Tut :
Por isso, seu revestimento de calcário, brilha como
ele. As pirâmides encerram toda a
grandeza de nosso povo. Jamais se elevou
na face da terra uma casa tão sólida e perfeita em rigor astronômico,
geográfico e matemático !
Rainha :
Os blocos calcários para a sua edificação vieram das
pedreiras ali próximas, ao Sul de Heliópolis.
Somente o granito róseo para as câmaras do rei e da rainha, saíram da
Núbia, não foi ?
Tut :
Sim. Quando o Nilo
transbordava, o povo, que nada tinha a fazer, senão esperar pela estação do
plantio, era empregado para construir a tumba dos deuses.
Rainha :
Todos os trabalhadores ganharam a bem-aventurança e os
servem, agora, na outra vida...
Tut :
Mas, de que adiantou aos faraós ? Seus corpos foram
profanados e seus tesouros saqueados, já na 8ª dinastia. Tu te recordas das profecias de Nefer-rohu ?
Rainha :
Sim, adorado. É por
isso que as tumbas são agora construídas dentro do maior segredo e seus
trabalhadores mortos ao terminá-las. O
que mais visitaremos ?
Tut :
Iremos ao Delta, onde executarei o ritual de aragem da
terra, nos campos sagrados de Osíris e Ptah.
De regresso, passaremos por Sakkára, onde se eleva a primeira pirâmide
erguida por um deus, no mundo dos mortais.
[ aparece uma serva da rainha /
prostra-se ao chão ]
Serva :
Ó vós, semelhante a Rá em tudo o que fazeis ! O que vosso coração deseja se torna
realidade. Quando pretendeis alguma
coisa durante a noite, vossa pretensão é satisfeita ao nascer do dia. Vós viveis eternamente e nós obedecemos todas
as vossas ordens, ó faraó, deus belo, filho de Amen-Rá - rei dos deuses ...
Tut :
Et caetera, et caetera... parai com essa ladainha, ordeno
! O que queres ?
Serva :
O pai-divino Aý, sumo sacerdote, manda vos anunciar que tudo
já está preparado para a vossa visita ao Vale dos Reis. Se eu não disse a verdade, podeis lançar-me
aos crocodilos !
Tut :
Meu ‘ká’ se alegra com tua notícia. Eu te nomeio
“Intendente Real das Boas Palavras”.
Os sacerdotes te instruirão no protocolo. [ faraó
dá-lhe um peitoral e ela se retira ]
Rainha :
Não demore muito, Tut. Não me agradaria espera-lo,
apreciando um tostado peito de avestruz com ovos ...
Tut :
Meu carro voará pelo deserto, com a rapidez das flechas que
disparo, querida ! [ Tut se retira / na escadaria, encontra-se com Horemheb, que
se aproxima com uma carta na mão ]
3º ATO - cena
intermediária.
Horemheb :
Longa vida ao soberano rei Tutankhamen !
Tut :
Horemheb ! Quanta
alegria ! O que fazes aqui ?
Horemheb :
Vim pessoalmente trazer esta carta que me enviaram os
palestinos, implorando que intercedesse junto a faraó. Eles foram atacados por beduínos da
Transjordânia e pedem asilo político.
Tut :
O refúgio em Kemit lhes é concedido. À tarde, partirás comigo para Mênfis. Comandarás o nosso exército na Ásia e
abaterás o inimigo. Agora, ide
descansar. Vou à necrópole e volto logo
mais. Comeremos peito de avestruz com
ovos... e boa cerveja ! [ os dois se retiram ]
3º ATO -
Cena 3
Abre-se o pano.
A rainha está sentada numa
poltrona. Seus dentes estão sendo
tratados por um ‘sunu-ibh’. Um sacerdote, de quando em quando, sacode o
sistro. A rainha geme de dor.
Dentista : [ purifica na chama um objeto de metal ]
Divina soberana, senhora da nossa vida e luz de formosura
sobre o mundo ! Os deuses aliviarão a
dor, quando eu perfurar vossa sagrada gengiva e dela retirar o líquido amarelo,
causador do mal.
Rainha :
É horrível ! Oh!
Oh! Onde estão minhas criadas ?
Serva 1 :
Aqui estamos, senhora
- ao vosso lado morreremos para
sempre serví-la !
Rainha :
Acaso não vêm o desespero da vossa rainha ? Estais contentes com o meu sofrimento ? oh!
Oh!
Serva 2 :
A vossa dor, majestade, também nos aflige de maneira
terrível !
Rainha :
Então, porque não gemem como eu ? oh!
Oh! Julgam-se superiores a mim
? Pois ordenarei que lhes arranquem os
narizes, malditas !
Serva 1 :
Nós recebemos vida de vossas mãos e morreremos quando, pelo
nosso ouvido esquerdo, entrar o sopro da morte ! Oh! Oh! Que dor !
Serva 2 :
Oh! Minha cabeça
estoura de tanta dor ! Oh! [ elas
gemem acompanhando a rainha ]
Dentista : [ ordenando
]
Ó espíritos perversos, obedecei-me ! Eu ordeno e tudo é feito ! Alerta, demônios perturbados ! [ segura
no queixo da rainha e tenta cortar-lhe a gengiva com o bisturi de cobre ]
Rainha : [ gritando ]
Guardas ! Guardas
! Afogai, afogai no Nilo este louco
maldito que ousa segurar-me ! oh!
Oh! Eu destruo o teu ‘ká’, dentista
imundo !
Dentistas : [ com muita calma ]
Segurai a coluneta ‘djet’, o amuleto de Osíris, ó
senhora - ele vos aliviará a dor ! [ o
sacerdote faz um sinal e as servas agarram firmemente os braços da rainha,
enquanto ele segura a cabeça e o dentista faz o abcesso ]
Sacerdote :
Vai, afasta-te, vai-te embora. As palavras mágicas te destroem ! Elas te aniquilam totalmente ! [ a
rainha dá um grito / coloca seu pé
direito repentinamente no peito do dentista e o empurra com violência para
trás /
todos a soltam / ela bebe e cospe numa bacia que lhe
servem /
está mais aliviada / Tutankhamen surge, debochando da esposa, com
gargalhadas / o dentista e o sacerdote se retiram ]
Tut :
Tu te pareces uma leoa ferida por minhas setas.
Rainha :
Imbecil ! Não vês que
me torturas com essas palavras ?
Tut :
Esqueça a dor, divina criatura. O chefe dos dentistas já expulsou o mal de
tua boquinha. A tortura já passou e Tut
está ao teu lado.
Rainha : [ abraçando-o ]
Óh! Querido, como foi
horrível.
Tut :
Fique boazinha... e amanhã iremos rezar ao sol nascente bem
aos pés do colossos de Amenhetep III.
Rainha : [ entusiasmada ]
Prometes ?
Tut :
Sim, palavra de faraó !
[ sorriem ]
Rainha :
No silêncio da planície, como é delicioso ouvir as colossais
estátuas cantarem ao sopro da brisa. Parece que lá os deuses conversam com os
homens.
Aý : [ entrando esbaforidamente ]
Perdão, grandes soberanos do Norte ao Sul, bem-amados por
Amen-Rá – rei dos deuses !
Tut :
Dizei, pai-divino !
Aý :
Horemheb está com forças egípcias na Ásia ...
Tut : [ interrompendo ]
Eu assim lhe ordenei ...
Aý :
E agora uma orda de líbios ameaçam a paz no Deserto
Ocidental, descendo pelo Delta. Os
exércitos de Amen e Ptah deverão ser imediatamente postos em movimento !
Tut :
Reúna todos os carros de combate nas portas de Tebas e põe o
exército em pé de guerra. Eu próprio, o
deus vivo, os comandarei. Envie um
mensageiro a Horemheb, ordenando-lhe vir ao meu encontro !
Aý :
Assim foi dito pela boca de Amen. Saúde, vida e proteção a vós, ó supremo chefe
dos exércitos ! [ retira-se ]
Rainha :
Amor, só Horemheb ou o general Nakhtmin bastariam para
esmagar os inimigos ! Tua vida tem sido marcada por inúmeros combates. Agora
chega, querido. Por que não ficas comigo
? Tu prometestes que amanhã rezaríamos
aos pés de Amenhetep, o grande !
Tut :
Primeiramente os deveres de Estado. Eu sou o touro possante, o pacificador das
Terras. Arrebentarei as cabeças desses
líbios miseráveis. Farei que contemplem
minha majestade como um chacal do Sul, velozmente transformando seus corpos em
cadáveres ! [ sacerdotes entram, trazendo a faraó suas armas de guerra : ‘kheperesh’,
colar, cinto, sandálias e punhal / Tut, depois de vestido, queima incenso ]
Rainha : [ depois de oferecer a adaga de ferro aos
deuses, dirige-se ao rei ]
Imortal, bem-amado de Amen.
A ti é confiada a paz de Kemit.
Que tua mão seja terror e morte aos inimigos. Predileto desta terra sagrada, retorna
vencedor ! [ entrega-lhe a adaga ]
Pedirei à deusa Sekhmet, em todas as horas do dia e da noite, por tua
saúde e vitória, ó meu amado.
Tut :
Chegará a ti, pela suave brisa, o meu suspiro ardente. No murmúrio do Nilo, ouvirás o eco dos meus
lamentos e desejos !
Rainha :
Longa vida, meu amor !
Tut :
Longa vida, Ankhsenámen.
As luzes se apagam /
ouve-se uma marcha militar / ao
término, acendem-se as luzes / as servas estão penteando e enfeitando a
rainha .
Rainha : [ mirando-se no espelho ]
Mais alguns dias e receberei, triunfante, o faraó em meus
braços ! Os mensageiros só trouxeram
boas notícias. Minhas noites jamais
serão vazias, pois juntos percorreremos os jardins de papiros e nenúfares,
apanhando flores campestres. Faz muito
tempo que não vejo meu amado. Meu corpo
foi tomado pela indolência... somente seu nome me exaltará. Quando o abraço, o mal que sinto desaparece.
Serva 3 :
Para passar o tempo, majestade, posso narrar-vos uma linda
fábula que ouvi ?
Rainha :
Fábula ? Qual ?
Serva 3 :
É a história da pantera... já conheceis ?
Rainha :
Não, deve ser nova. Conte-a !
Serva 3 :
“Era uma vez um leão nas montanhas, que possuía muita força
e caçava bem. Os animais
temiam-no. Certo dia, encontrou-se com
uma pantera, cujo couro estava esfolado e a pele rasgada. Perguntou-lhe o leão : ‘Como chegaste a esse
estado ? Quem te esfolou ?!’ Respondeu a pantera : ‘Foi o homem !’ ‘O homem, que é isso ?’ – retrucou o
leão. ‘Não há nada mais astuto do que
ele, o homem !’ – disse a pantera.
Então, o leão sentiu rancor do homem e foi procurá-lo.”
Rainha : [ meio sonhadora...
]
Foi então quando Tutankhamen apareceu no seu carro
fulgurante ... [ a serva 1, entra repentinamente na sala / joga-se ao chão, soluçando ]
Que houve criatura ? Que mal lhe
fizeram ?
Serva 1 : [ aos soluços ]
Uma desgraça, senhora.
Uma terrível desgraça caiu sobre o Egito !!! [ a
rainha, assustada, levanta-se e vê surgir na porta o general Horemheb ]
Horemheb :
Trago-vos uma horrenda notícia, majestade !!!
Fecha-se o pano.
4º ATO -
CENA 1
Antes de
abrir o pano, aparece uma mulher toda
descabelada, com expressão de tristeza. É uma carpideira. Ela ergue os braços para o alto, inclina a cabeça para traz e lamenta,
chorando. Enquanto isso, abre-se o pano
e descortina-se a Casa da Morte. Numa
mesa, uma múmia está toda envolta em faixas.
Abre-se um ataúde e colocam-na dentro dele, levando-o para outro
aposento. Um embalsamador levanta a
cabeça de um cadáver na lixívia e retorna a mergulhá-la. Pega pedaços de órgãos em putrefação e joga
em outro embalsamador. Começa uma luta
de brincadeira entre eles.
Repentinamente entra o capataz, dando chicotadas no ar.
Capataz :
Cães malditos, ralé do mundo ! Limpem já essa sujeira, porcos imundos ! O divino corpo do deus faraó se aproxima
desta morada.
Embalsamador :
Ah ! Ah ! Ah !
Que diferença faz ser o corpo do faraó ou de qualquer mendigo ? Aqui, todos são lixo... e pó !
Capataz : [ chicoteando o ar ]
Cala a sua boca, sírio imundo, amaldiçoado pelos deuses
! É melhor que obedeças minhas ordens
! [ chicoteia
o ar ]
O corpo do
rei é trazido à sala e colocado numa mesa /
ele está coberto / duas carpideiras choram. Aý, Horemheb e Ankhsenamen acompanham o
cortejo.
Rainha : [ ordenando solenemente ]
Que se inicie o ritual para a contemplação da eternidade !
Aý : [ abrindo os braços sobre o corpo do rei ]
A morte é a transformação mais desejada. Ela conduz o pensamento do visível ao
invisível, do vulgar ao eterno, do humano ao divino !
Horemheb : [ fazendo o mesmo gesto ]
A morte não é o fim, mas a transição inevitável que conduz à
eternidade !
Rainha :
O corpo se compõe de nove partes : ‘khet’ !
Aý :
O corpo !
Rainha :
‘Ká’ !
Aý :
A personalidade espiritual !
Rainha :
‘Bá’ !
Aý :
A alma !
Rainha :
‘Kahi-bit’ !
Aý :
A sombra !
Rainha :
‘Akh’ !
Aý :
O espírito !
Rainha :
‘Ib’ !
Aý :
O coração !
Rainha :
‘Sekhem’ !
Aý :
A energia espiritual !
Rainha : [ dirigindo-se
aos 4 pontos cardiais ]
Ó vós, deuses do Sul, do Norte, do Leste e Oeste ! Vinde em auxílio do Osíris Rei, Nebkheperurá
Tutankhamen - um nome para a posteridade
! [ uma tijela é colocada por um
embalsamador, ao lado do corpo / aparecem 2 sacerdotes / as
carpideiras colocam o símbolo de Ísis e Néftis na cabeça / uma
coloca-se aos pés do defunto {Ísis} e outra à cabeça {Néftis} ]
Embalsamador 1 : [ dizendo para Aý ]
Senhor, eis a faca etíope !
[ Aý faz uma incisão no flanco esquerdo
/ gritam as carpideiras /
lentamente, o embalsamador 2 retira o estômago ... os intestinos... o
fígado e os pulmões do rei, colocando cada qual numa tigela /
sacerdotes agitam os sistros ]
Embalsamador 2 :
[ trazendo um recipiente com líquidos
]
Vinho de palmeira, água do ‘nomo’ de Elefantina, nardo de
Eileitiáspolis, leite da cidade de Kim e óleo aromático para purificar as
vísceras do Osíris-rei, com ele a paz !
Embalsamador 1 : [ banhando as entranhas ]
Nestes órgãos reside
o ‘ká’, a personalidade espiritual do Osíris-deus. Elas alimentarão, na eterna morada, o corpo
do faraó ressuscitado.
Embalsamador 2 : [ com
um jarro canópico nas mãos ]
No princípio do universo, quatro deidades nascidas de uma
flor de lótus, foram colhidas do oceano primordial, por ordem de Rá, o
Sol. Hórus apontou-as como guardiãs dos
vasos canópicos.
Embalsamador 1 : [ colocando dentro de um vaso, o fígado ]
Que o gênio Amset, de cabeça humana, tutelado por Ísis,
proteja o fígado do Osíris-rei, senhor das Duas Terras ! [ colocando
noutro vaso os pulmões ] Que o
gênio Hapi, de cabeça de macaco, tutelado por Néftis, proteja os pulmões do
Osíris-rei, Nebkheperurá. [ pondo noutro vaso o estômago ] Que o gênio Kebeshenuf, de cabeça de falcão,
tutelado por Neit, proteja o estômago do Osíris-rei, o filho de Rá ! [ colocando
no último vaso os intestinos ] Que
o gênio Duamutef, de cabeça de chacal, tutelado por Serket, proteja os
intestinos do Osíris-rei Tutankhamen !
Embalsamador 2 : [ retirando de potes de alabastro e despejando
na cavidade toráxica ]
Mirra pura moída, canela, vinho e substâncias especiais,
para a cavidade abdominal do Osíris-rei, eternamente amado.
Embalsamador 1 :
[ esfregando o corpo ]
Sal e natro para recobrir o Osíris corpo de sua majestade.
Aý :
Que o divino corpo do rei defunto repouse agora durante 70
dias no banho da preservação eterna !!!
[ o corpo é conduzido para outro
compartimento / todos o acompanham / apagam-se as luzes e
fecha-se o pano ].
4º ATO - CENA 2
Abre-se o pano :
Em um
recinto do Templo de Amen, em Karnak.
Aý : [ abrindo e lendo num papiro ]
“Atum-Rá, o criador do universo, deu origem, naquela
ocasião, a dois filhos : Shu, o ar - e
Tefnut, a umidade. Shu tornou-se o
princípio vital e Tefnut o princípio da ordem mundial. Eles tornaram-se os pais de Geb, a terra - e
Nut, o céu, em cujo corpo navegam as estrelas.
Estes tiveram 4 filhos : Osíris,
Ísis, Seth e Neftis. Osíris tornou-se o
primeiro rei do Egito : inventor dos
instrumentos agrícolas, fundador da sociedade e das leis. Ísis, sua irmã e esposa, incumbiu-se da
fertilidade das mulheres. Mas, eis que
o invejoso Seth planeja a morte do irmão.
No auge de um banquete um ataúde será presenteado a quem nele
couber. Quando Osíris se coloca nele,
Seth precipita-se sobre o ataúde, lacra-o e lança-o ao Nilo, com a ajuda de
comparsas. Assim morreu Osíris com a
idade de 28 anos. Ísis e Néftis encontram o corpo de Osíris nas
costas de Biblos, na Fenícia e o trazem
para o Egito. Seth, descobrindo o
esconderijo, retalha-o em 14 partes, espalhando-as pelo Delta. O cão Anúbis reúne os pedaços e o
embalsama. Ísis, ferindo o ar com suas
asas, ressuscita o marido, que se ergue cheio de vida. Agora é mais o rei do Egito, mas o rei do
mundo oculto. Hórus, seu filho,
enfraquece as forças de Seth e se torna o herdeiro do trono egípcio. “
Horemheb : [ entrando ]
A Ísis-rainha Ankhsenamen não deu à luz um Hórus para o
trono de Kemit. Soube pelo o embaixador
hitita Hattu-Zitish, que ela enviou uma carta ao rei Supiluliuma pedindo um de
seus filhos por esposo.
Aý : [ irado ]
Isso é traição !
Jamais o sacerdócio de Amen permitirá que um estrangeiro ocupe tal
lugar.
Horemheb :
Supiluliuma reuniu o grande conselho, que decidiu pedir uma
confirmação secreta. Zananza foi
escolhido para ser o esposo !
Aý :
Malditos ! O príncipe
já deve estar a caminho !
Horemheb :
Precisamos agir imediatamente !
Aý : [ dizendo com expressão odiosa ]
Zananza deve morrer !
Tu, Horemheb, tu deverás exterminá-lo.
A cólera de Amen-Rá guiará tua espada... e tu salvarás o Egito.
Horemheb :
Assim seja feito ! [
retira-se / entra em cena um sacerdote ]
Sacerdote 2 : [ saudando Aý ]
Pai-divino ! Os
objetos funerários aguardam a purificação !
[ o mesmo sacerdote bate palmas duas vezs / uma moça traz, numa bandeja, as jóias do
faraó defunto / mirra e incenso é derramado sobre elas /
outras moças trazem diversas coroas
/ uma biga desmontada também é
purificada, assim como estatuetas, leques, busto porta colar e outros / por
fim, a máscara funerária é posta sobre o altar
]
Sacerdote 2 : [ ajoelhando-se frente à máscara ]
As feições do Osíris-rei Tutankhamen estão aqui retratadas
em ouro puro, lápis-lázuli, cornalina e feldspato. Um jovem afável e distinto, em metal
imperecível.
Aý : [ incensando-a ]
Ó Osíris, rei do Alto e Baixo Egitos e senhor das Duas Terras, Nebkheperurá. Tua alma vive e tuas veias são fortes. Teu olho direito é a barca da noite. Teu olho esquerdo é a barca da manhã. Tua cabeça é Anúbis. Teus joelhos são Hórus. Teus cabelos são Ptah-Sokar. Tu és Tutankhamen, doador de vida como Rá !
Ó Osíris, rei do Alto e Baixo Egitos e senhor das Duas Terras, Nebkheperurá. Tua alma vive e tuas veias são fortes. Teu olho direito é a barca da noite. Teu olho esquerdo é a barca da manhã. Tua cabeça é Anúbis. Teus joelhos são Hórus. Teus cabelos são Ptah-Sokar. Tu és Tutankhamen, doador de vida como Rá !
Sacerdote 2 : [ faz um sinal e todos os objetos são levados
da sala / somente depois, ele pronuncia ]
O corpo do bom-deus Tutankhamen sairá do seu banho de
eternidade, 3º dia de Fannuti. Todos os
seus pertences já foram levados para sua tumba, no deserto Ocidental.
Aý :
Providenciai para a procissão funerária os touros imaculados
e leite consagrado para regar o solo.
Ensaie as dançarinas fúnebres. [
apagam-se as luzes ]
4º ATO - Cena intermediária
Acende-se a luz.
Entram Horemheb e Aý, às gargalhadas e
bebendo ...
Horemheb :
O país de Kemit já está livre do perigo ameaçador. Zananza está morto ! Ah! Ah! Ah!
Aý :
Ah! Ah! Supiluliuma
está furioso ! Escreveu à rainha dizendo
que seus filhos vingarão o povo de Hatti.
Ah! Ah! Amen venceu ! Amen venceu !
Horemheb : [ sorvendo o vinho ]
Como vês, pai-divino, terei que pessoalmente guarnecer as
fronteiras do Norte.
Aý : [ espantado ]
Mas então, quem será o faraó ? O clero decidiu que serias tu !
Horemheb :
Não. Tu te casarás
com a rainha viúva e te tornarás faraó !
Aý :
Eu ?
Horemheb :
Sim, Aý. Faremos um
pacto. Tu governarás obedecendo minhas
ordens.
Aý :
Assim o seja !
Horemheb :
Agora nos preparemos !
Amanhã tu usarás o ‘keperesh’ e, como sucessor, executarás a cerimônia
da ‘abertura dos olhos e da boca’ do Osíris-rei.
Aý :
Assim tu ordenas !
CENA FINAL
No ‘sancta sanctorum’ no templo de Karnak, a
corte se reúne. Ao fundo, em pé, o esplendoroso ataúde de Tutankhamen. Aý, com
a coroa azul e a pele de leopardo aos ombros.
Suas vestes são de faraó.
Ankhsenamen está ao seu lado.
Ankhsenamen : [ virando-se
para os nobres e abrindo os braços / todos se ajoelham ]
O rei Nebkheperurá quer ser santificado por tudo quanto
fez. Assim fala o rei Tutankhamen, de
palavras justas. [ a voz do rei soa pelo recinto ]
( Tut ) :
Salve Osíris, Senhor das Verdades. Eu te conheço e aos 42 deuses que te cercam
neste tribunal de justiça. Vim a ti para
te trazer a verdade e apagar o pecado.
[ pausa ]
Jamais pequei contra os homens.
Nunca matei. Não fiz mal a
ninguém. Jamais caluniei um
servidor. Dei alimento ao esfomeado e
água ao sedento. Vesti o que estava
nú. Nunca roubei. Nunca danifiquei as terras cultivadas. Nunca produzi terror, nem cometi
aflições. Nunca menti. Não tirei o leite da boca de
recém-nascido. Nunca fiz ninguém chorar.
Nunca comi demais. Jamais despojei os
mortos. Jamais depreciei a Deus em meu
coração. [ pausa ] Ó comedor de sombras, ó comedor de sangue,
ó senhor do abismo celeste, ó tu que abre a boca... sou puro, sou puro, sou
puro !!!
Anksenamen : [ depois de algum silêncio ]
Nenhum de nós se levanta para te acusar ! Nem os mortais, nem os imortais ! [ uma
serva deposita aos pés do ataúde um modelo de barco ] Tu
navegas entre as estrelas celestes ! As
portas do firmamento se abrem para ti.
Sacerdote 2 : . [ 2 servos trazem para perto do ataúde o
pilone de Anúbis ]
Palavras pronunciadas por Anúbis : “Sou eu quem impede que a areia recubra tua
câmara, quem expulso os seres malignos.
Eu sou o guardião do pórtico do outro mundo. Aqui estou para te proteger,
Osíris-Tutankhamen ! [ aos pés do ataúde são depositadas as figuras
de algumas ‘shabits’ ]
( Tut ) :
Ó tu, ‘shabit’ ! Quando
me chamarem para executar qualquer trabalho no mundo dos infernos, dizei :
‘Aqui estou para servir o bom-deus Tutankhamen’ !”
Aparecem 3 damas caracterizadas como deusas ; cada uma
tem, sobre a peruca um sinal hieroglífico :
o trono, a bacia, o céu. Ísis e
Neftis se colocam ao lado do ataúde. Nut, à sua frente. Permanecem sentadas. Trazem asas douradas presas aos braços.
Sacerdote 2 : [ saudando o ataúde ]
Vive, Hórus, touro forte, belo ao nascer, senhor das deusas
dos países, pacificadoras das Duas Terras, ó Hórus de ouro, exaltado nas
coroas, amigo dos deuses, rei do Alto e Baixo Egito e senhor das Duas Terras,
Nebkheperurá, doador da vida !
Horemheb :
Teu ‘ká’ vive e nos dê milhares de anos, ó tu amado de
Tebas, sentado com teu rosto voltado para o Norte, com teus olhos plenos de encanto
!
Nobre 1 :
Vive, ó senhor dos tronos do mundo, ó senhor dos céus, para
sempre vive !
Ísis : [ erguendo
lentamente as asas, assim como Néftis ]
Eu sou tua mãe, que criou tua beleza, ó Osíris-rei, senhor
das nações, Nebkheperurá. Teu ‘ká’ é
eterno em teu corpo, ó Tutankhamen !
Aý : [ som
de canto sacerdotal / agitam-se os sistros / Aý pega o ferro ‘nu’ e
enquanto passa sobre os olhos e a boca do ataúde, diz pausadamente : ]
Pronunciar seu nome é fazê-lo viver novamente. Eu sou o senhor das Duas Terras Keperkeperuari Maatrá, o filho do Sol, Aý - saúde, vida, proteção ! Eu ordeno : Desperta ! Tu triunfas ! Vem para o teu ‘ká’, completamente tranquilo !
enquanto passa sobre os olhos e a boca do ataúde, diz pausadamente : ]
Pronunciar seu nome é fazê-lo viver novamente. Eu sou o senhor das Duas Terras Keperkeperuari Maatrá, o filho do Sol, Aý - saúde, vida, proteção ! Eu ordeno : Desperta ! Tu triunfas ! Vem para o teu ‘ká’, completamente tranquilo !
( Tut ) :
Ó grande deusa celeste Nut !
Estende tuas asas protetoras sobre mim, por tanto tempo quanto brilharem
as imperecíveis estrelas !
Nut : [ abrindo
suas asas sobre o ataúde / voz compassada ]
É Nut quem fala :
“Teu nome está na boca dos súditos ; tua imortalidade, na boca dos vivos
!!!”
Fecha-se o pano.
ELENCO :
NÁDIA MAIRA GATTO PUZZIELO
Tut criança / Ankhsenámen
JARBAS D'ÁVILA VILELA
Tutankhamen
ETIENE COELHO DA SILVEIRA
Nefertite
MOISÉS DA SILVA
Ankhenáten
SUELI COSTA
Tiý
ALBANI NASCIMENTO
Sitamen / serva
DENIS MURRAI BRANDÃO
Aý / Imutef
FOÃO REGIS FIGUEIREDO
Amen-Rá
EDSON PEREIRA DOS SANTOS
Horemheb
MARIA ENTONIETA PINHO
Taemuadjes / serva
WALTER MARCELO DE LIMA
Huý / servo / embalsamador
CONCEIÇÃO MARTINS
Meritáten
CÉSAR AUGUSTO LUNARDI
Nena
ROSELLI ARROCHO
Neit / serva
JOSENI MENDES
Néfert / serva
LEONICE CACHIOLO
Merit
WANDERLEI JUCKIMIUK
sacerdote / embalsamador
WAGNER JUCKIMIUK
sacerdote embalsamador
MARIA ESTELLA CORREA
serva
MÁRCIA CAVALCANTI
serva
EDUARDO D'ÁVILA VILELA
escriba / porta-selos / embalsamador
MARGARIDA FERREIRA COSTA
dama de honra / carpideira
MARIA APARECIDA MARTINS
carpideira
Link da 1a. edição :
https://jarbasvilela.blogspot.com/2014/11/egiptomania-ii-tutankhamen-o-farao-peca.html